ERRO
DE APITO
Fluminense é
campeão com ajuda do juiz
O
carioca José Roberto Wright, 41 anos,
viu-se, na última quarta-feira, sob
os olhares atentos de 90.000 torcedores, diante
de uma das mais dramáticas situações
a que está sujeito um juiz de futebol
- um pênalti no último minuto
do jogo, capaz de mudar, no caso, não
apenas o resultado da partida como a própria
história de todo o campeonato. O tempo
normal já se esgotara quando o atacante
Cláudio Adão, do Bangu, foi
derrubado dentro da área pelo zagueiro
Vica, do Fluminense, num pênalti clamoroso
que o Maracanã inteiro testemunhou.
Se o juiz apitasse a falta, o Bangu teria
uma esplêndida chance de empatar o jogo
- até aquele instante, perdia por 2
a 1 - e ficar com o título de campeão.
Wright, porém, preferiu voltar as costas
para o problema e, assim, dar a vitória
e o título ao Fluminense.
"Estava de costas para o lance, pois
tinha apitado antes o fim do jogo", argumentou
Wright, referindo-se a uma cena - a do apito
final - que, ao contrário do pênalti
não assinalado, ninguém notou
no estádio lotado. "Foi um roubo
descarado, mas agora não tem mais jeito",
lamentava desolado, com as mãos na
cabeça, o patrono do Bangu, Castor
de Andrade. Castor estava duplamente certo:
Wright falhara e sua falha não tinha
mais conserto. Em futebol, o juiz tem poder
absoluto para determinar o que está
certo ou errado dentro das quatro linhas de
jogo. Mesmo que se prove posteriormente que
sua decisão foi equivocada, ou que
o próprio juiz admita o erro, numa
raríssima autocrítica, o mal
jamais é reparado. O juiz pode até
ser punido pelos tribunais esportivos ou pelos
cartolas, mas o resultado do jogo é
mantido. Em 1973, por exemplo, numa decisão
do campeonato paulista, o grande Armando Marques
errou a conta na disputa final de pênaltis
entre Santos e Portuguesa. Constatada a falha,
a solução para contorná-la
foi declarar os dois times campeões.
Carreira agitada - Até aquele momento,
Wright cumpria uma atuação praticamente
sem falhas, confirmando sua condição
de juiz competente, reconhecida pela própria
FIFA, o órgão que governa o
futebol mundial, de cujo quadro internacional
de árbitros faz parte. O resultado
do jogo era justo prêmio ao futebol
superior apresentado pelo Fluminense. Depois
de sofrer um gol aos 4 minutos, conseguiu
marcar dois, mas a vitória e o título
só foram garantidos com a inestimável
colaboração de José Roberto
Wright.
Embora Wright tenha integrado a equipe de
atletismo do Fluminense nos anos 60, seria
injusto acusá-lo de agir de má
fé na decisão carioca. Nem foi
essa a primeira confusão em que se
meteu em 14 anos de carreira como juiz. Em
1981, ele encerrou prematuramente um jogo
entre Flamengo e Atlético, pela Taça
Libertadores da América, o campeonato
sul-americano de clubes, ao expulsar cinco
jogadores do time mineiro ainda no primeiro
tempo. Graças a esse empurrão,
o Flamengo acabaria campeão continental
e mundial de clubes.
Um ano depois, Wright protagonizaria outro
caso ainda mais extravagante. Em combinação
com a TV Globo ele apitou o jogo final da
Taça Guanabara, entre Flamengo e Vasco,
com um gravador escondido sob a camisa. A
idéia era mostrar na TV como jogadores
e juízes se entendem, ou se desentendem,
dentro do gramado. Indignados pelo que consideraram
uma invasão de sua privacidade, os
atletas das duas equipes fizeram uma denúncia
contra o árbitro na Justiça
Desportiva. Wright foi suspenso por 40 dias.
Pelo menos naquela ocasião ele conseguiu
desagradar a todos indistintamente.
Fonte: Revista Veja, 25/12/1985.