Sete décadas de futebol profissional
Faz 70 anos que quatro clubes do Rio deram o pontapé inicial para a implantação do regime remunerado
Texto: Roberto Assaf
Fonte: Lance! (Coluna Papo com Roberto Assaf), 18/02/2003.

Ninguém se deu conta, mas o profissionalismo no futebol brasileiro está completando 70 anos de vida. Foi em fevereiro de 1933 que os principais clubes de São Paulo aderiram ao movimento iniciado no mês anterior por América, Bangu, Fluminense e Vasco para celebrar a implantação do novo regime.
O amadorismo era, na prática, uma forma de exploração econômica do jogador, como destacou Floriano Peixoto Correia em "Grandezas e misérias do nosso futebol", lançado no finzinho daquele 1933, e no qual o ex-centro-médio de Fluminense e América narra as relações entre jogadores e cartolas durante a vigência do velho regime. Floriano socorreu-se de um artigo do jornalista Max Valentim para resumir o que ocorria. "O amadorismo de tapeação tem dinheiro para palácios de dansa (sic), luxuosos recintos de mundanismo, piscinas e festas aristocráticas que nada têm a ver com o futebol. Mas o amadorismo de tapeação - pobresinho! (sic) - não pode pagar, senão gorgetas (sic), aos rapazes de cujas canelas ele tira restaurantes, mundanismo, terrenos, piscinas e festas", denunciava.
O profissionalismo melhorou as condições dos jogadores. Mas nem tudo foi resolvido com a implantação do novo regime, como explicou o pesquisador Waldenyr Caldas em seu "O pontapé inicial". "Os maiores beneficiados, na verdade, foram os clubes. A legislação inicial dava ao atleta apenas o direito de receber seu salário. Em casos especiais, o clube pagava uma quantia a título de luvas. Mas isso não constava da legislação; portanto, não era obrigatória. Não podemos esquecer que a Consolidação das Leis do Trabalho só surgiria a 5 de janeiro de 1943. Assim, não havia nada que protegesse o jogador e nenhum direito a reivindicar", ressaltou.
No dia 23 de março de 2001, comemorou-se a Medida Provisória editada em Brasília que determinava o fim do passe. Afinal, tal ato foi na prática o maior avanço na legislação desde a implantação do profissionalismo. Supunha-se assim a extinção da escravidão de que já falava Max Valentim. Mas qual o quê. Os jogadores livraram-se do passe, mas a maioria esmagadora caiu na malha fina dos empresários, que são hoje, efetivamente, os donos do futebol.