Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

Matar para não morrer

Texto: José Antonio Gerheim
Fonte: Jornal dos Sports (Passe Livre), 16/06/2003.

Em termos de futebol considero-me um privilegiado. Trago na memória as imagens do tempo de ouro dos grandes clássicos que fizeram a glória e a história do Maracanã, o estádio Mário Filho, e o transformaram no mais famoso e sagrado templo do futebol mundial, cartão postal do Rio de Janeiro, assim como o são o Corcovado com a imagem do Cristo Redentor de braços abertos, o Pão de Açúcar, a avenida Atlântica na orla da Praia de Copacabana.

Acompanho desde a infância na fantástica década de 50 até os dias de hoje, a construção da magia do Maracanã, imortalizada pelos pés geniais de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Zizinho, Ademir, Jairzinho, Gérson, Zico, Roberto Dinamite, Romário e "forasteiros" como Pelé (Santos), Rivelino (Corinthians e Fluminense) e Tostão (Cruzeiro e Vasco), para ficar só nos mais idolatrados, naqueles que incendiaram de paixão e admiração o coração dos torcedores. Craques que começaram desde o dia 29 de junho 1958 na Suécia a escrever as páginas de maior orgulho do povo brasileiro em toda a sua história de 503 anos: as título de pentacampeão mundial de futebol, representados hoje pela geração de Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Espetáculo algum no mundo se comparava a um domingo de clássico no Maracanã. Uma festa de bandeiras, de cantos, de alegria sem limite, sem violência, ao sabor da mais pura emoção, das gozações e da volta para casa com a sensação da alma mais leve.E clássicos não eram apenas os jogos entre Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Também os que estes disputavam contra o América e o Bangu. Para citar só alguns, lembro de casa cheia, Marcanã lotado, nas decisões de 60 (Fluminense e América), 66 (Flamengo e Bangu), 67 (Botafogo e América, Taça Guanabara, Botafogo e Bangu, campeonato estadual).

Com a entrada para valer da televisão no futebol, antes só transmitindo um ou outro jogo, agora influindo até mesmo no modelo de disputa dos campeonatos, determinando inclusive o dia e horário mais conveniente —para ela, é claro — dos jogos, o conceito do espetáculo vem mudando profundamente. Desde os hábitos de torcer, tanto de quem vai ao estádio como dos que preferem ficar assistindo em casa, ao próprio jogo: os esquemas táticos, passaram a sofrer a influência das câmeras, o jogo ficou mais compactado e veloz, o goleiro aparece muito mais do que antigamente.

Não vai nesta observação nenhum crítica, nenhum saudosismo lacrimogêneo. Ao contrário, acho a televisão em muitos pontos, positiva e uma evolução essencial para o aparecimento de novas gerações de craques em nosso futebol, como a de que é símbolo a dupla Diego e Robinho do Santos. Infelizmente ela só não conseguiu até agora mudar a mentalidade da maioria esmagadora dos dirigentes. Há, é claro, exceções, mas são apenas exceções, como os ex-presidentes Francisco Horta do Fluminense e Giulite Coutinho da CBF, como é Bebeto de Freitas no Botafogo.

Se dentro do campo o futebol brasileiro não parou e nem para de evoluir, fora dele, principalmente nas Federações, tudo parece parado no tempo, principalmente no Rio de Janeiro. O resultado é a visível decadência de nossos clubes, o esvaziamento progressivo dos estádios, o Maracanã encolhido e adormecido, os médios clubes como América e Bangu à beira da extinção, os pequenos mas de grande tradição e papel fundamental na história que fez a grandeza de nosso futebol, como se fossem escombros salvos de um bombardeio, caso de Campo Grande (revelou Dario), Bonsucesso (revelou Leônidas da Silva). E o que dizer dos clubes do interior do estado, daqueles que ficam quase um ano inteiro sem atividade, sem campeonatos para disputar?

O futebol de hoje envolve grandes investimentos, a televisão paga pelos jogos, isso se traduz em muitos empregos indiretos. É assim no mundo inteiro.Só aqui, sobretudo no Rio de Janeiro, é que se vê a cada ano um campeonato estadual menos atraente, sem graça, sem apelo. E uma participação no Campeonato Brasileiro cada vez mais melancólica, onde os nossoc clubes disputam não o título, mas sim as últimas posições na tabela.

É chegada a hora de mudar tudo isso, de dar um basta! A mudança que vai iniciar a salvação de todos os que amam e vivem no futebol do Rio de Janeiro tem que começar pela troca de poder na Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Os quatro grandes, os outros clubes, as Ligas, todos sabem que não ha mais salvação na perpetuação no poder dos que lá estão há 18 anos. É preciso fazer do dia 3 de julho próximo o dia da redenção do futebol do Rio de Janeiro. Antes que ele morra!