Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

Sem clube não há Seleção campeã

Texto: José Antonio Gerheim
Fonte: Jornal dos Sports (Passe Livre), 01/09/2003.

Mais um título para o engrandecimento do melhor futebol do mundo foi conquistado de forma brilhante e irretocável pela Seleção Brasileira sub-17 em gramados europeus, enriquecendo ainda mais a sala de troféus da CBF.

E esse título, como todos os outros, incluindo o pentacampeonato mundial, é fruto do trabalho de base feito pelos clubes, a maioria com grandes sacrifícios, despesas cada vez maiores e quase sem nenhum reconhecimento por parte da entidade máxima de nosso futebol. Não me canso de repetir: sem clube não haveria Seleção, não haveria título. E isto não vale só para o futebol. Vale também para o basquete, o vôlei, o handebol e por aí afora.

E nesta Seleção dirigida com a maior competência pelo técnico do Flamengo, Marcos Paquetá, nada menos do que sete jogadores são do futebol do Rio de Janeiro: o goleiro Marcelo (Flamengo), o lateral -direito Léo (Flamengo), o zagueiro Marlon (Flamengo), o cabeça-de- área Júnior (Vasco), os apoiadores Arouca e Juliano (Fluminense) e o atacante Hugo (Botafogo).

Não quero polemizar nem provar nada, mas que isso não é sintoma de decadência não é mesmo. Ao contrário, é sinal de que o futebol do Rio de Janeiro segue sendo um dos celeiros de craques que acabam honrando a famosa camisa verde-amarela da Seleção, ajudando-a a se manter no mais alto lugar dos pódios e de todos os rankings. Uma história que começou em 1958, nos campos da Suécia, tendo à frente os geniais Garrincha e Pelé.

Por falar nisso, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro, o seu presidente Eduardo Viana, e também os presidentes dos outros clubes, principalmente os grandes, têm a obrigação de não ficar parados, olhando a banda passar, assistindo como se não fosse com eles o drama porque passa o Bangu.

O grande Bangu de Domingos e Ademir da Guia, de Zizinho, Zózimo, Parada, Paulo Borges, Mauro Galvão e muitos outros craques atravessa o pior momento de sua gloriosa existência de 99 anos. Está à beira da extinção. E isso será mais um golpe profundo no futebol do Rio de Janeiro. Ainda é muito recente a situação de penúria vivida pelo América, outro clube quase centenário e, como o Bangu, parte do que há de mais rico na história de nosso futebol.

Estamos já nos aproximando do fim de mais um ano, os clubes passando por situações críticas, endividados, tendo de disputar um campeonato que não vem tendo o mínimo retorno financeiro, em parte pelo mau desempenho dos times. Como pode um Campeonato Brasileiro ter, num domingo, no Maracanã, pouco mais de dez mil heróis assistindo a um Flamengo x Corinthians?

O que já aconteceu com o Fluminense duas vezes e uma vez com o Botafogo parece que não deu para abrir os olhos dos dirigentes. Será que vai ser preciso um Bangu morrer para que eles façam enfim o seu mea- culpa, se unam, debatam os problemas, sentem-se à mesa com a televisão (Rede Globo) e a CBF e façam valer a sua força?

Quem avisa amigo é. Futebol de poltrona, só com torcedor de olho na telinha, sem ânimo para ir aos estádios, vibrar e sofrer por seu clube, sua paixão, será o caminho mais curto para o futebol brasileiro, mais cedo do que alguns supõem, despencar do alto do pódio.