Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

O que fizemos?

Texto: Renato Mauricio Prado, publicado no Jornal O Globo, em 21/09/2003.

Uma onda de nostalgia, um mar de saudades. Impressionante como todos nós sentimos falta dos bons tempos do futebol carioca - e ainda assim nada se consegue fazer para afastar do poder os carrapatos que sugaram todo o seu sangue nas últimas décadas. O estopim do movimento - que surgiu através de inúmeros e-mails - foi a última coluna, lembrando a final da Taça Brasil de 1966.

São rubro-negros lembrando os tempos que vão de Zizinho a Zico, Júnior, Carpegianni etc; tricolores clamando pelas épocas de Félix, Samarone, Flávio, Lula, Rivelino, Romerito, Branco, Assis e tantos outros; vascaínos que não se esquecem das glórias de Ademir Marques de Menezes a Roberto Dinamite, Romário e Cia. e alvinegros saudosos daqueles timaços com Garrincha, Nílton Santos, Gerson, Jairzinho, Paulo César e que tais.

Como pudemos deixar que se chegasse ao ponto que chegamos? Por que deixamos que nos roubassem (literalmente) algumas de nossas maiores alegrias - e prazeres?

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Um e-mail me tocou em especial, por representativo de como as coisas mudaram por aqui. Com a palavra, Carlos Molinari:

"Muito boa a sua crônica de hoje trazendo aos leitores mais novos a finalíssima entre Santos e Cruzeiro pela Taça Brasil de 1966. Melhor ainda foi a lembrança dos dois grandes esquadrões cariocas da década de 60: o Botafogo e o Bangu, bancado pelo pai de Castor de Andrade, 'seu' Euzébio, e que trazia feras como você citou: Paulo Borges, Bianchini, Parada e Aladim, além de craques como Ubirajara no gol, Cabralzinho no ataque, Roberto Pinto no meio, Fidélis na lateral".

"Esse Bangu dos dias de hoje, que a moçada mais nova mal conhece, não é nem a sombra do Bangu da década de 60".

"Um bom exemplo aconteceu no início de 1967, quando foi realizado, no Mineirão, o Torneio dos Campeões - quem vencesse seria o Campeão dos Campeões do Brasil".

"E lá estavam o Cruzeiro, campeão mineiro e da Taça Brasil; o Palmeiras, campeão paulista; o Bangu, campeão carioca, e o Atlético Mineiro - para dar renda".

"Na primeira partida após o título da Taça Brasil (os dois históricos jogos contra o Santos que você lembrou em sua última coluna) o Cruzeiro estreou no quadrangular contra os campeões cariocas. E sabe quanto foi este confronto? Bangu 2 a 0".

"Na final, o time de Moça Bonita pegou o Atlético - que tinha eliminado o Palmeiras, por 3 a 1. Como houve empate de 2 a 2, os cariocas ficaram com o título, pelo goal average".

"O time base do Bangu na conquista: Ubirajara, Fidélis, Mário Tito, Luís Alberto e Pedrinho; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Cabralzinho, Norberto e Aladim".

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É, amigos mais jovens, o futebol carioca tinha seis grandes clubes. Pois além do Bangu e dos quatro mais famosos (Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco), havia ainda o simpaticíssimo América - o segundo time de todos que não fossem americanos.

Quando comecei no jornalismo, em 1976, cobrindo justamente o Ameriquinha, no Andaraí, olha só o esquadrão que envergava a camisa rubra: País, Orlando Lelé, Alex, Geraldo e Álvaro; Ivo, Renato (irmão de Amarildo) e Bráulio; Flecha, Luizinho Tombo e Gílson Nunes. Era um timaço!

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Foi do América também um dos mais talentosos jogadores que vi jogar: Eduzinho, o irmão de Zico. Meu Deus, como jogava o Edu! Até hoje há quem diga que, em seus bons tempos, era melhor que o Galo.

Não chego a tanto mas, ainda como torcedor, me cansei de ver Edu e seu irmão Antunes entortarem várias vezes zagas do Flamengo formadas por Ditão, Onça, Itamar, Guilherme, Manicera (já em final de carreira) e outros tantos.

O "Pequeno Polegar" era mesmo infernal!

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Hoje em dia costuma-se festejar públicos de 40 mil torcedores como "casa cheia" no Maracanã. Pois saibam os mais novos que assisti a vários Flamengo x América com 100 mil pessoas nos tempos do "Maior e mais belo estádio do Mundo". Hoje em dia o Maraca nem é mais o maior e muito menos o mais bonito...