E se Vágner Love fosse para o Bangu?
Texto: Ubiratan Leal.
Fonte: Coluna Balipodo.com, publicada no site www.gardenal.org, em 03/06/2005.
Fotos: Sportinglife, Gazeta Esportiva, Nova Iguaçu e Bangu.

De folga na Premier Liga russa, Vágner Love veio ao Brasil e aproveitou para declarar, ainda no aeroporto, que está disposto a voltar ao futebol brasileiro. Assim, ficaria mais perto de sua família e dos olhares da comissão técnica da seleção, já que ainda guarda esperança de ter um lugar o grupo que irá à Copa de 2006 na Alemanha. O desejo de retornar seria tão grande que, segundo ele, aceitaria “até jogar no Bangu”, já que a sede do clube alvirrubro está logo à frente da casa de sua família. Pois o que aconteceria se a hipótese levantada pelo atacante se realizasse?
A notícia, além de ser recebida com grande surpresa, levantaria enormes dúvidas a respeito da operação financeira que a teria viabilizado. Imaginar o Bangu atual – em situação financeira completamente diferente da vivida na época em que era mantido por Castor de Andrade, entre as décadas de 1960 e 1980 – pagando milhões ao CSKA Moscou por Vágner Love é tão fora do comum que é difícil imaginar como isso ocorreria. Talvez na cessão dos direitos de vários jovens bangüenses em troca do empréstimo do atacante por um ano. Ou, pelo menos, até o final da Segundona fluminense.
A apresentação do mais novo reforço alvirrubro ajudaria a aumentar o moral do futebol do Rio de Janeiro. O Estado, que sempre se orgulhou de seus grandes clubes, do Maracanã e de possuir o campeonato estadual mais charmoso do Brasil, veria agora o crescimento de seus clubes pequenos, já em alta após as boas campanhas de Volta Redonda, Americano e Cabofriense no último estadual.
Pois isso estaria se espalhando para a Segunda Divisão. Com Vágner Love, o futebol fluminense se autoproclamaria dono da melhor Segundona estadual do país. Afinal, se os paulistas sempre se basearam na força e tradição de seu interior, o Rio teria a história de Bangu, São Cristóvão, Bonsucesso, Goytacaz e Mesquita e, em campo, nomes como Zinho no Nova Iguaçu, Brener no Macaé e, agora, Vágner Love no Bangu. Isso porque Edmundo, que deu as caras rapidamente no torneio, acertara com o Figueirense.

E, por maiores que sejam o currículo de Edmundo e Zinho, a chegada do atacante do CSKA Moscou teria um impacto maior. Seria um caso inusitado de jogador ainda em ascensão e nos planos de Carlos Alberto Parreira para a Copa do Mundo a atuar em uma Segunda Divisão estadual. Um perfil bem diferente de Zinho, que atua no clube do qual é dono, Brener, sem espaço em outras equipes, e Edmundo, que precisava apenas voltar a atuar antes de conseguir algum time de mais destaque (o que acabou acontecendo).
Dificilmente alguma emissora de televisão transmitiria a fase final da Segunda Divisão do Rio de Janeiro para fora do Estado. Ainda assim, equipes de reportagem seriam escaladas para cobrir as primeiras partidas de Vágner com a camisa banguense. Os gols do torneio, sobretudo os assinalados pelo ex-palmeirense, teriam espaço nas mesas redondas dos domingos à noite e no Globo Esporte das segundas-feiras. E seriam vistas até cenas normais há 20 anos, mas inusitadas atualmente, como um integrante da comissão técnica da seleção brasileira indo a Moça Bonita observar o jogador.
Além de agradar Parreira, Vágner estabeleceria como desafio alcançar a artilharia do torneio. Em um time forte e com a possibilidade de disputar o quadrangular final do torneio, provavelmente ultrapassaria Dionísio, do Ceres, artilheiro no momento com seis gols, mas que não deve disputar a fase decisiva.

A empolgação faria que o público do Bangu aumentasse nos estádios, ainda mais com os não-banguenses que iriam como curiosos. Mas não seria nada muito significativo, talvez 200 pessoas a mais por jogo, uma vez que a torcida continuaria achando que esse time estaria longe dos melhores da história alvirrubra, sobretudo na comparação direta com o campeão carioca de 1966 e o vice-campeão brasileiro de 1985.
De qualquer maneira, o time – hoje líder do Grupo B na primeira fase – contaria com um jogador muito acima da média do campeonato e experiência internacional para decidir a partidas em seu favor. Além disso, teria um ganho acentuado de autoconfiança. Inevitavelmente, o alvirrubro se tornaria o mais forte candidato ao título e à única vaga para a Primeira Divisão de 2006.
Com o término do campeonato, em 30 de setembro, o Bangu teria cumprido seus compromissos para 2005 e fecharia seu departamento de futebol profissional até janeiro de 2006. Sem atividade, Vágner Love teria novamente de buscar uma equipe. Não faltariam grandes clubes paulistas anunciando a contratação do artilheiro da Segunda Divisão do Rio de Janeiro como solução para seus problemas de ataque. Mas só para 2006 também, pois o prazo de inscrição do Campeonato Brasileiro teria se encerrado uma semana antes.