Surgiu um ídolo no Bangu: Mirandinha
Nos 5 a 1 sobre a Ponte, Mirandinha revelou que tem coragem, fome de gols e uma tremenda vontade de vencer
Fonte: Revista Placar, 23/01/1981
Repórter: Hideki Takizawa / Fotógrafo: Ignácio Ferreira
Revista gentilmente cedida por Leonardo Cesar (leoicet@terra.com.br)

A bola esticada por Carlos Roberto cai junto aos pés de Odirlei, mas o mulato Mirandinha sabe que este é um daqueles momentos decisivos na vida. Ganhar o lance perdido significará ganhar respeito, passar do anonimato às manchetes.
Então, um grito de espanto toma conta da torcida do Bangu. No chão, o lateral-esquerdo da Ponte nem mesmo consegue xingar Mirandinha - está espantado com o sangue que mancha seu meião.
- Foi meu cartão de visitas, o cartão de visitas do Mirandinha. Era eu ou ele, era ele ou minha carreira. Sobrou ele -, conta Mirandinha a dezenas de torcedores.
Gláucio Rodrigues, eis o seu nome. O apelido foi ganho nos tempos de juvenil da Caldense, de onde surgiu para o Bangu. "Sou parecido com o Mirandinha que jogou no São Paulo e se arrebentou todo", explica. "Por isso, entro com tudo em bola dividida." E sentencia:
- Sou Mirandinha mas não quero ficar inutilizado. Na área, sou o rei das divididas.
AINDA VÃO FALAR MUITO DO ARTILHEIRO
E rei dos gols. Pelo menos contra a Ponte, marcou três e virou herói. Nascido em Poços de Caldas, esse menino -humilde fora de campo - transformou-se em dono da festa. O poderoso Castor de Andrade, presidente do clube, profetizava, eufórico:
- Até que enfim! Ele correspondeu aos meus apelos. Aí nasce um artilheiro igual ao Paulo Borges em 66.
Mirandinha, 23 anos, já se imagina posando de faixa no peito, diante de um Maracanã duro de gente. Como Paulo Borges, o sorriso artilheiro do campeão carioca de 66, e que também tinha um estilo semelhante de jogo. Mirandinha descreve:
- Eu gosto de ser lançado em velocidade, fechando em diagonal para o gol.
Centroavante de ofício, contenta-se em atuar na ponta-direita, já que o titular da camisa 9 é o veteraníssimo gigante Alcino. Mas a sua própria camisa contém uma mística especial, é a 7 de Paulo Borges. Feito um corisco, ele parte da lateral para o gol arrastando adversários, empurrando a bola, sem ver obstáculos. Fica o alerta: qualquer Odirlei que ousar enfrentá-lo sabe dos riscos, sabe que terá pela frente um jogador disposto a tudo. A tal ponto que fez uma promessa, que não revela, a Nossa Senhora Aparecida, ano passado. Uma semana depois, ganhou um Chevette de Castor de Andrade. Motivo:
- Foi aquele gol que marquei contra o Flamengo, diante de Rondinelli e Luís Pereira...
Mineiro, matreiro e desconfiado. Mas igualmente ambicioso. Comprado por três milhões, ele jura que vai colocar seu nome entre os grandes ídolos do futebol carioca. Contra a Ponte, deu provas: dois gols de oportunismo, e um deslumbrante terceiro gol, ao mergulhar de peixinho num centro alçado por Marco Antônio. "Espero que tenha sido apenas o começo.
Está alegre, o Mirandinha. E mais alegre fica ao ser afogado pelos abraços experientes de Moisés, Tobias, Carlos Roberto, Marco Antônio. Ele, Mirandinha, que acaba de sair do anonimato...