Castor de Andrade: Seu Zizinho, meu pai
Fonte: Revista Bangu e Suas Glórias - Ano I - Novembro de 1981

Recebi uma incumbência do editor da Revista para falar sobre alguém que é tudo em minha vida: meu pai. O que se deve falar de um pai?
Contar que ele é bom, que sempre cuidou de todos nós, que nunca mediu esforços para nos dar tudo?
Dizer que nos ensinou o caminho da vida, orientando a mim e aos meus?
Ou será que tenho de escrever as mesmas palavras que todo e qualquer filho escreve sobre seus pais, dizendo que ele é o maior amigo, é a voz que nos guia, é a mão que nos ampara, é o calor que nos aquece, é a lágrima que chora por nós, é o riso que se escancara na nossa boca?
Não quero dizer nada disto do meu pai.
Nem desejo falar que ele é ótimo, ou que é maravilhoso.
Não teria palavras para contar o que é meu pai, para mim, para os meus.
Também não é minha obrigação escrever sobre meu pai.
Nem dizer que ele estará vivo sempre, eternamente, no amor que nos legou, nas palavras que ainda nos diz, nestes seus quase 81 anos de vida.
Quero contar algo de meu pai mas sinto que teria que falar antes de uma santa mulher, d. Carmem. Dela seria até mais fácil porque eu resumiria tudo numa palavra de três letras e um acento: MÃE.
Falar de meu pai, porém, é muito difícil. Lembrar dele como o homem do trem?
Recordar-me dele como o homem das terras, das fazendas?
Lembrar dele, pelo que me contam, correndo atrás da bola no "Dramático" de Realengo?
Ou será que poderia só fazê-lo como homem do nosso Bangu?
Ninguém perseguiu tanto um campeonato como o meu pai.
"Seu" Zizinho - 2
Em 1966 ele conseguiu. O Bangu foi campeão.
O Bangu de meu pai.
O Bangu de doutor Silveirinha. Um outro pai do nosso Bangu.
Um filho tão querido que todos avocam para si a sua paternidade.
"Seu" Zizinho - 3
É porem, como já disse um dia doutor Silveirinha, um Bangu intransferível.
Por isso é que eu, Antenorzinho, Vivi, Toninho, Paulinho Franchini, Ruy, outros e outros diretores, a torcida inteira, a comunidade toda, por isso mesmo é que estamos juntos nesta luta para que o Bangu seja sempre o Bangu do inesquecível Guilherme da Silveira, de seu filho, doutor Silveirinha, de meu pai, "seu" Zizinho.
Não será de mais ninguém, me perdôem.
Não que não haja gente capaz como os três: os dois Silveira e meu pai. Há, sim. Apenas não haverá maiores banguenses que eles.
É devido a tudo que disse acima que não posso falar sobre meu pai.
Não me vejo capaz de fazê-lo. Meu pai é história viva deste mundo alvi-rubro que é o Bangu. Parte de sua história, como da família Silveira. Meu pai só me ensinou a amar o Bangu. Mais nada.
O Bangu me ensinou, porém, a amar - ainda mais -o pai que Deus me deu: "seu" Zizinho.
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É, sim. Meu pai. Um grande amor. O maior amor. Tão grande quanto o amor que ele sempre dedicou ao Bangu. Um amor maior do que se possa imaginar. Um amor que nunca despertou ciúmes em D. Carmem, minha mãe, que nunca se importava de saber que o velho Zizinho tinha - e ainda tem - uma mania, fora dela, dos filhos, da família: o BANGU!
Sobre o que é um pai, eu li, não me lembro onde, uma frase de um pensador indú que dizia assim: "não se fala do pai, se ama..."
Eu também.