Wagner: gols à Bangu
A explosão do artilheiro que veio de Minas. Livre do medo da cidade grande, ele desencabulou
Fonte: Revista Placar, março de 1982
Repórter: Hideki Takizawa
Revista gentilmente cedida por Leonardo Cesar (leoicet@terra.com.br)

No final de 1981, Wagner Roberto de Oliveira, 21 anos (21/08/60) - destaque entre os goleadores da atual Taça de Ouro -, era um dos jogadores mais valorizados de Minas Gerais. Apesar da campanha modesta do seu clube, o América - que ficou oito pontos atrás do Atlético - ele foi o artilheiro estadual com 16 gols, superando o cruzeirense Edmar, o atleticano Eder e o corintiano Casagrande, na época emprestado à Caldense.
A perspectiva parecia a melhor possível tanto que ele até se dava o luxo de programar seu futuro: jogaria no Atlético com um bom contrato que lhe permitiria casar com a noiva Nazia e investir na fazenda do pai, em Inhapim (278 km de Belo Horizonte), para então se dedicar à agropecuária quando abandonasse o futebol.
De repente, surgiu o Bangu na sua vida. O patrono Castor de Andrade fez uma oferta irresistível: Cr$ 23 milhões à vista para o clube mineiro, e, para o jogador, 15% do valor do passe e mais 8 milhões de luvas na mão.
A proposta, mesmo frustrando o objetivo inicial de permanecer em Minas, despertou em Wagner a alegria de viver do futebol pois, graças à aplicação do dinheiro, deixou de depender financeiramente do pai.
Mas o pacato artilheiro não estava preparado para o novo cotidiano no subúrbio de Bangu. Os primeiros dias não foram nada fáceis e se refletiam nas suas noites mal dormidas. Assustado e suando frio com os pesadelos, onde se via baleado por assaltantes, atropelado ou se afogando, acordava angustiado todas as manhãs na silenciosa concentração da Toca do Castor. Nessas horas, tinha vontade de largar o Bangu, voltar para Minas, juntar-se à noiva e à família, e mergulhar de vez no projeto de criar gado com o pai.
- No início eu tinha verdadeiro pavor de viver no Rio de Janeiro - lembra. A violência e a agitação me assustaram porque eu estava habituado à vida mansa do interior, cercada de amigos.
O desajuste num mundo em que só via arranha-céus, motoristas neuróticos e a onda de violência acabou, para alegria dos milhares de banguenses. O paternal Castor de Andrade resolveu o problema ao mandar procurar um apartamento na zona sul, seguro de que seu jovem artilheiro não se perderá nas noites de Copacabana, onde vai morar junto com o volante Lira e o ponta-esquerda Wilmar.
- O Wagner é jovem, mas de bom berço e muito responsável - garante Castor.
A providência ajudou bastante a desinibir o centroavante, que desandou a fazer gols - marcou nove até a semana passada, incluindo os dois que derrotaram o Santos na última quinta-feira -graças ao entrosamento cada vez maior com Rubens Feijão. Hoje ele ainda não é tão conhecido e respeitado em Bangu como o próprio Feijão, ídolo do subúrbio, mas sente que está no caminho:
- Aqui, estou aprendendo a ser mais esperto com malandros como Moisés, Toninho, Marco Antônio e Rena. Esses veteranos me ajudaram a ficar livre dos pesadelos.
Livre, leve, solto e marcando gols à Bangu, para delírio da eufórica torcida do subúrbio.