Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

Um craque na intimidade: Moisés, o xerife

Fonte: Revista Destaque - Nº 1 - Ano I - 1982
Foto: Revista Destaque
Moisés
Nome: Moisés Matias de Andrade
Naturalidade: Estado do Rio de Janeiro (Resende)
Idade: 34 anos
Estado civil: Casado
Filhos: 2
Clubes: Bonsucesso, Flamengo, Botafogo, Vasco, Corintians, Fluminense, Portuguesa dos Desportos e Bangu
Posição: Zagueiro
Altura: 1,79m
Peso: 76kg
Chuteira: 41

Qual foi o jogo mais difícil de que você participou? (Alberto Leo, TV Bandeirantes)

- Já disputei várias partidas difíceis, mas a que me recordo com orgulho foi contra a Rússia em Moscou. A Seleção Brasileira, naquela época, 1973, tinha que se firmar, pois estávamos nos preparando para a Copa do Mundo de 1974. Não foi brincadeira, como eu sofri.

Você sente medo do Castor de Andrade ou tem admiração por ele?

- Por que teria medo de Castor de Andrade? É um homem e um dirigente honesto. Sabe tratar o jogador de futebol e, por isso, acho que me dou muito bem com ele. Sinto profunda admiração por Castor de Andrade e além do mais ele é fã do jogador. Talvez seja isto o segredo do Bangu nos campeonatos.

É verdade que você é o treinador do Bangu? (Paula César Vasconcelos, OGlobo)

- Não. Claro que, com a minha experiência no futebol, tenho 18 anos de carreira, dou a minha opinião. Apenas ajudo o técnico João Francisco, que é um rapaz competente. Antes de ele assumir era diferente, pois quase todas as observações que fazia eram aceitas.

Onde você anda investindo seu dinheiro, uma vez que a Bolsa de Valores já não é tão rentável? Você já mudou de idéia de ser o homem de paletó e gravata, como James Bond? (Haroldo Habibi, O Dia)

- Já fiz de tudo na vida. Trabalhei com dólar, ouro, mercado imobiliário e já tive até loja de calçado. Mas depois de analisar e estudar bem, cheguei à conclusão de que o melhor investimento é construir. Tenho seis casas alugadas em Macaé e estou construindo uma na Barra da Tijuca. Esta terá de tudo. Piscina, sauna, quadra de tênis e outras coisas mais. É para nenhum rico botar defeito. Paletó e gravata só coloco quando vou resolver assuntos ligados ao Bangu.

Qual foi o atacante mais difícil que você marcou? (Paulo Stein, TVBandeirantes)

- Seria uma injustiça citar um só jogador. Jairzinho e Pelé foram os que me deram mais trabalho. Não preciso citar as virtudes desses dois jogadores. Todos sabem do passado de Pelé e Jairzinho.

Porque você teve a idéia de fundar o Bloco das Piranhas? Sabe que você fica muita bem travestido? Daria até para ir àquele famoso Baile das Bonecas.

- O bloco foi fundado há vinte anos e apenas o ressuscitei. Meus tios desfilavam vestidos de mulheres e quando vi as fotografias da época me deu vontade de aderir. O Bloco das Piranhas ficou famoso porque vários jogadores desfilam e é proibida a participação de homossexuais, para não perder a graça, pois o bonito é que desfilam homens vestidos de mulheres. Não tenho vocação para ir ao Baile das Bonecas. Acho que cada um fica na sua. Mas que dá para confundir dá. Mas sou homem.

Qual o seu passatempo preferido?

- A caça submarina é minha paixão.

Conte uma de pescador

- Estou domesticando um tubarão. Quase todos os dias vou lá, na Ilha Tijuca, e dou tiro de espingarda na cabeça dele. Parece que ele gosta e todas as vezes que vou pescar, lá está.

Acusado de violento, você mesmo faz questão de vender esta imagem. O problema é que quase você recebe o Troféu Belfort Duarte. E aí? Seria uma vergonha ou não? Afinal, você sempre disse que zagueiro que se preza não ganha Belfort Duarte (João Areosa, Jornal do Brasil)

- O zagueiro tem que ser respeitado. O atacante tem que saber que está sendo marcado duro, nunca deslealmente. A lei até permite que o jogador faça uma falta violenta. E mantenho a opinião de que zagueiro que se preza não pensa em Belfort Duarte. Seria muita falta de sorte receber o Belfort Duarte. Aí perderia a moral.

Qual o jogador mais violento que você marcou? E o mais valente?

- Jairzinho e Pelé foram os dois atacantes mais desleais e valentes que já enfrentei. Eles não tinham medo de nada e na hora de dividir a bola eles o faziam por cima. Aí eu tinha que colocar todo o meu vigor físico para contê-los.

Você já quebrou a perna de alguém?

- O único que machuquei gravemente foi Jairzinho. Ele ficou quase um ano sem jogar ou até mais, não me recordo com precisão. Mas nesse dia ele me provocou. Dei uma entrada dura e ele me ameaçou. Aí meu filho, era vida ou morte. O seu azar é que acertei logo no joelho. O Botafogo ficou longo tempo sem o seu melhor atacante.

Fora do futebol, seu esporte preferido é a caça submarina. Contam, inclusive, que certa vez um tubarão se aproximou, olhou na seu rosto e gritou "epa, é o Moísés". E fugiu apavorado, você é bom mesmo nisso? (José Antonio Alves, Jornal do Brasil)

- Devido a minha profissão sou razoável. Mas quando parar com o futebol tenho condições de ser um dos melhores do país neste esporte. Agora que o tubarão me respeita isso não tenha dúvida. Parece até que ele vai aos campos de futebol me ver jogar.

Morar em São Paulo e jogar pelo Corinthians foi prêmio ou castigo?

- Foi um prazer. Naquela época fui o zagueiro mais caro em termos de negociação no Brasil. Além do mais, ganhei 15% do valor do meu passe. Era sonho de todo jogador ir para o Corinthians e quebrar o tabu do clube que não ganhava títulos há 20 anos. E em 1976 fui vice-campeão brasileiro e no ano seguinte campeão paulista. Estava recompensado.

Fica bem um jogador valente como você vestir-se de Marilyn Monroe e sair rebolando no Bloco das Piranhas? (lvannir Yasbeck, Jornal do Brasil)

- É uma coisa interessante desfilar de mulher no carnaval. Acho que é uma forma convincente de você curtir aqueles dias. Não me importa o que os outros pensam.

Você é violento mesmo ou faz tipo?

- Na atualidade jogo apenas com a técnica. Já fui violento, agora só faço tipo.

Você ajuda sua mulher no trabalho de casa?

- Não. Acho que quem fica em casa é caramujo.

Quando você chega tarde em casa como reage sua mulher?

- Ela fica enciumada. Aí tenho que ter um argumento muito forte, geralmente tenho e não há problemas.

Em todos os clubes por que passou você investia o dinheiro dos jogadores na Bolsa de Valores. Você já fez algum jogador ficar rico?

- Acho que não fiz ninguém ficar rico, mas ganharam um bom dinheiro. Apenas os aconselhava e aí dependia de cada um aceitar ou não a minha opinião.

Você vai se candidatar a vereador? Por que decidiu a ingressar na carreira política e qual seu partido?

- Primeiro lugar pela popularidade que tenho pelos bairros da Zona Norte. Acho que tenho condições de fazer alguma coisa pela classe de baixa renda. Pretendo criar um novo sistema que possa melhorar as pessoas mais pobres. E também defender a classe dos jogadores, que está entregue às traças. Meu partido político é o PMDB.

Conta uma história sobre sua passagem no Corinthians?

- Estava emprestado ao Flamengo que se interessou em comprar meu passe. Aí fui a São Paulo convencer o Vicente Mateus a me liberar. Cheguei lá, disse que estava inutilizado para o futebol e que já tinha ido aos médicos do INPS. Ele não acreditou e me olhava desconfiado. No dia seguinte engessei a perna e apareci sem me barbear e de camisa rasgada. Parecia realmente um mendigo. Aí ele ficou com pena e me deu o passe livre. Custei a acreditar e sai da sala rapidamente.