Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

1924 - Revolução no futebol carioca

Fonte: Campeonato Carioca 96 anos de História (1902 - 1997). Rio de Janeiro. Irradiação Cultural, 1997
Apud. ASSAF, Roberto & MARTINS, Clóvis

Em 1924, ocorre a segunda cisão da história do futebol carioca. Os desentendimentos, aliás, começaram no ano anterior, mais precisamente em 5 de novembro, quando Ernesto Loureiro Filho, do Andaraí, clube que também abrigava negro e mulatos em seu time, foi eleito vice-presidente da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT).

Há algum tempo, os principais clubes já vinham formalizando protestos contra os estatutos da entidade, que davam direito de voto a agremiações secundárias, como Modesto e Independência. Estes, quase sempre, alegavam Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense e América, é que decidiam as questões importantes pertinentes ao futebol, embora muitos não possuíssem sequer departamento deste esporte.

Américo Pastor, grande atacante banguense. Irmão do 1º secretário Guilherme Pastor
Américo Pastor, grande atacante banguense. Irmão do 1º secretário Guilherme Pastor

A obrigatoriedade da partida eliminatória entre o último colocado da Primeira Divisão e o campeão da Segunda, que voltara a ocorrer em 1923, também ajudou a alimentar a polêmica. Naquele ano, o Botafogo segurou a lanterna, e só escapou do rebaixamento após vencer o Vila Isabel por 3 a 1, nas Laranjeiras.

Diante dos fatos, os cinco grandes propõem mudanças radicais, não só na política de administração da Liga, bem como na fórmula de disputa do campeonato. Uma Assembléia Geral foi convocada para 20 de fevereiro. Os 36 filiados compareceram e decidiram, por 21 a 15, que tudo deveria continuar como estava.

Foi então que o dirigente Mário Polo, do Fluminense, falando em nome da coligação formada pelos cinco grandes, anunciou o rompimento com a LMDT e a criação de uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos, a ser presidida pelo presidente tricolor, Arnaldo Guinle.

A AMEA é logo reconhecida pela CBD. O Vasco e outros menores, que possuíam "atletas de profissão duvidosa", foram excluídos. Como era preciso manter aparências e evitar que a nova entidade fosse rotulada de preconceituosa, seus membros abriram vaga para o Bangu, um clube de subúrbio, mas cujos jogadores tinham ocupação definida. Para todos os efeitos, eram todos operários da fábrica, e não levavam a vida "batendo bola", como faziam, comprovadamente, por exemplo, os atletas do Vasco.

Disputaram o campeonato da AMEA seus oito filiados: América, Bangu, Botafogo, Sport Club Brasil, Flamengo, Fluminense, Helênico e São Cristóvão.

O 1º time banguense no campo das Laranjeiras.
O 1º time banguense no campo das Laranjeiras. Da esquerda para a direita: John Hartley, Oswaldo Corrêa (Coquinho), Luiz Antônio da Guia, Gabriel Machado, Anchyses Carrilho, Antenor Vicente Corrêa, Bernardino Granado Coutinho (Dininho), Frederico Pinheiro, Idílio Guerra, Antenor Ferreira (Nonô) e Américo Pastor.

Depois desta confusão envolvendo os clubes, o clima dentro do Bangu era um pouco tenso. Na Assembléia Geral dos sócios, James Schofield foi reeleito, assim como o secretário Guilherme Pastor. O problema seria o cargo de vice-presidente. De início, o escocês e introdutor do futebol no Brasil, Thomas Donohoe, foi eleito para o posto, mas recusou. Em uma segunda votação foi escolhido o Dr. Miguel José Pedro, que era presidente da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres. Como o Bangu estava se desligando desta entidade para entrar na Associação Metropolitana de Esportes Athléticos, o secretário achou melhor impedir a posse de Miguel Pedro, entrando em seu lugar o ex-presidente Ary Azevedo Franco. Os outros cargos ficaram assim distribuídos: 2º secretário: Gustavo Martins; tesoureiro: Valente Rodrigues, Ground Committee: Cândido Souza, Luiz Antônio da Guia, Carlos Salino, Francisco Pereira e Quirino Assunção; Conselho Fiscal: Gentil Gonçalves, Márcio Franco e José Villas Boas.

Equipe de basquete do Bangu, que participou do 1º Campeonato Carioca da categoria

Fila do alto, da esquerda para a direita: Carregal, Nequinho e Deco. Fila de baixo: Roberto e Heitor.
Fila do alto, da esquerda para a direita: Carregal, Nequinho e Deco. Fila de baixo: Roberto e Heitor

O grande desfalque do Bangu para a temporada de 1924 foi a saída do jogador de meio-campo Brilhante (Alfredo Brilhante da Costa) para o Vasco da Gama. Como se não bastasse a ausência deste fenomenal atleta, o Bangu também perdeu Waldemiro Silva, jogador que estava desde 1920 no 1º quadro e que foi brutalmente assassinado em 25 de fevereiro de 1924.

Foi neste ano que a AMEA criou os campeonatos de basquete, vôlei e tênis. O Bangu disputou todos os três certames. Com exceção do tênis, foi a primeira vez que o clube criou equipes para estes esportes, obtendo os seguintes desempenhos: Basquete (4 vitórias e 12 derrotas); Tênis (7 vitórias e 9 derrotas); Vôlei (4 vitórias e 6 derrotas). Praticamente, os mesmos atletas que jogavam basquete, atuavam também na equipe de vôlei. Nestes tempos pioneiros isso era muito comum.

No Torneio Início, realizado nas Laranjeiras, em 27 de abril, o Bangu estreou empatando com o Flamengo por 1 a 1, gol de Américo Pastor, mas perdeu no maior número de escanteios, o critério de desempate utilizado na época, por 4 a 2.

Curiosidades:

O jogo entre Bangu e Fluminense, no dia 4 de maio, na Rua Ferrer, foi a mais empolgante da história dos Campeonatos Carioca. No primeiro tempo, Nilo fez 1 a 0 para os tricolores. Dininho empatou logo em seguida. Mas, o mesmo Nilo marcou mais duas vezes, deixando o placar em 3 a 1. Começa, então, uma reação histórica do Bangu, marcando três gols relâmpagos, com Nonô, Anchyses e Antenor, deixando os alvirrubros na frente por 4 a 3. No último minuto do 1º tempo, Nilo volta a empatar: 4 a 4. Na etapa final, Moura Costa faz 5 a 4 para o Fluminense. Mas o Bangu não desiste e Anchyses empata o jogo: 5 a 5.

Infelizmente este não era o nosso dia, mas sim o do atacante tricolor Nilo, que marcou 6 a 5 para sua equipe, fechando o placar.

Em 29 de junho, o Bangu vencia o América por 2 a 1, em Campos Sales, quando o jogo foi suspenso a doze minutos do final, por invasão do campo dos torcedores revoltados com o resultado. A partida foi dada como encerrada e o Bangu ganhou os dois pontos.