Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

Caixa d'água na cabeça

Dívidas dos clubes de futebol do Rio com a Cedae ultrapassam R$ 2 milhões

Jornal O Globo, 05/12/2003
Repórter: Fábio Juppa
Foto: Marcelo Theobald/1-9-2003 (O Globo)
O GATO TRICOLOR na rua Pinheiro Machado: o clube acabou multado pela Cedae
O GATO TRICOLOR na rua Pinheiro Machado: o clube acabou multado pela Cedae

Um oceano separa Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco de Antonina, Cabuçu, Jahu, Tamoio e Tomazinho, clubes filiados às ligas amadoras ou que disputam, no máximo, a terceira divisão estadual. Um lençol freático os torna iguais entre si, independentemente do espaço que lhes é reservado na história do futebol brasileiro. Juntamente com América, Americano, Bangu, Bonsucesso, Campo Grande, Pavunense e São Cristóvão, todos têm alguma pendência ou fazem parte da lista de devedores da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Somados, os débitos computados até novembro deste ano chegam a R$ 2.205.319,70.

A situação é considerada grave pela direção da companhia, pois, caso os clubes pagassem pelos serviços fornecidos, ajudariam a Cedae a saldar compromissos, comprar materiais e a atender com mais eficiência a população dos 62 municípios onde atua.

- Estamos abertos e receptivos a todos os inadimplentes interessados em negociar suas dívidas, facilitando pagamentos dentro da política estabelecida pela companhia - disse o diretor comercial da Cedae, Lutero de Castro Cardoso.

Para companhia, Fla é o maior devedor

Foto: Jorge William/12-8-2003 (O Globo)
FUNCIONÁRIA CARREGA um balde, em agosto, na Gávea: Fla contesta a dívida
FUNCIONÁRIA CARREGA um balde, em agosto, na Gávea: Fla contesta a dívida

Os quatro grandes da capital são os que mais "bebem água da fonte" sem pagar. O Flamengo, que em agosto teve o fornecimento suspenso por inadimplência, obrigando funcionários e até jogadores a tomarem banho em casa, é o número um da lista de devedores. De acordo com a Cedae, pelo consumo aferido pelos hidrômetros localizados na Rua Mário Ribeiro, na Gávea, e na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa, o rubro-negro tem de pagar R$ 635.072,34. O vice de finanças do clube, Luís Felipe Brandão, porém, não só contesta a dívida como sustenta que a companhia é que deve dinheiro ao Flamengo:

- Achamos o valor que nos vinha sendo cobrado absurdo e contratamos uma firma para verificar o consumo. A conclusão foi de que o Flamengo realmente pagava mais do que devia. Fomos à Justiça e, hoje, pagamos R$ 35 mil mensais em juízo, e não os R$ 60 mil que estávamos acostumados. Essa firma que nos prestou serviço ainda entende que a Cedae nos deve dinheiro por cobranças irregulares.

Na contabilidade da companhia, o débito do Botafogo é de R$ 299.088,10. Em dezembro, começarão a ser cobrados outros R$ 117,5 mil devidos desde maio de 2001 e negociados por administrações anteriores à do presidente Bebeto de Freitas. Este reconhece a existência de uma dívida, não a nega, mas, sutilmente, dá a entender que pagará quando puder:

- Temos de encontrar um solução para resolver esse problema, mas o prazo é o nosso.

Em agosto, o Fluminense foi multado pela descoberta de um "gato" de três polegadas de diâmetro que abastecia a sede das Laranjeiras. A dívida tricolor chegou a R$ 306 mil, mas foi equacionada com a companhia. Hoje, o clube paga R$ 97 mil mensais por contas de água e esgoto, mais o parcelamento do débito. Atualmente, é considerado adimplente.

- A própria Cedae reconheceu que a instalação irregular era coisa antiga, não havia sido feita pela nossa administração. Está tudo normalizado - explica o superintendente Carlos Henrique Correia.

O Vasco, curiosamente, está em dia, mas causou estranheza à Cedae o baixo consumo em sua sede, que gerava uma conta mensal de R$ 14 mil a R$ 18 mil. Para acabar com as dúvidas, técnicos fizeram uma vistoria-surpresa em São Januário no última segunda-feira e descobriram cinco poços artesianos que retiravam água ilegalmente de lençóis freáticos de área, onde existe rede de abastecimento.

Como a perfuração de tais poços não foi solicitada à Cedae, como estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos e o decreto regulador dos serviços de abastecimento e esgotamento sanitário realizado pela companhia, a direção da empresa vai contestar o Vasco por via judicial.

- O clube está rigorosamente em dia com a Cedae e essa contestação é uma prova de que eles não têm mais o que fazer. Podemos perfurar o que quisermos, contanto que não haja passagem fluvial no solo - alegou o assessor da presidência Ricardo Vasconcelos.

Editoria de Arte (O Globo)
o calote na água