Bangu assume o salto alto
Mas é só fora do campo - A presidência do clube é ocupada por uma mulher
Fonte: Revista Placar, março de 2004 - nº 1268
Repórter: Patrick Moraes

O Bangu abriu suas portas sob a bandeira do pioneirismo: foi o primeiro clube do país a escalar um jogador negro, Francisco Carregal, e juntar no campo operários e patrões da fábrica local. No ano do centenário, o alvirrubro inovou mais uma vez e pôs uma mulher na presidência - fato inédito no Rio de Janeiro. A advogada Rita de Cássia Trindade, 50 anos, foi eleita para gerir o Conselho Diretor - divisão que cuida do futebol. Casada e mãe de dois rapazes, Rita iniciou sua trajetória no Bangu há 13 anos, quando resolveu atender a um anúncio que procurava secretárias. Desde então, passou pelo departamento pessoal, técnico e chegou à vice-presidência de futebol em 2001. Mas confessa que começou a freqüentar estádios à beira dos 40 anos e toma suas decisões em comum acordo com a firma Gortin, dos empresários Reinaldo Pitta e Alexandre Martins - recentemente envolvidos no escândalo do propinoduto, que os fez passar algumas semanas na prisão. "Eles são parceiros. Propõem alguns nomes e nós escolhemos. Foi assim com a comissão técnica e os jogadores. A palavra deles pesa, claro", diz. Se algum jogador for vendido, a Gortin leva uma parte do dinheiro.
A falta de autonomia da presidente é a principal reclamação da oposição. "É um grande circo", diz Peri Cozer, do movimento Democracia Banguense. "Como o Rubens (Lopes, presidente de honra) não pode exercer o cargo porque é vice da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, ele pôs seus ventríloquos", afirma. A presidenta não nega a influência do poderoso cartola. "A gente aceita muito a palavra dele".
Rita afirma que não sofreu qualquer preconceito. Mas já enfrentou saias-justas nas reuniões da federação. "Sou obrigada a ouvir muito palavrão. Teve um dia que a secretária até me convidou para dar uma saidinha quando esquentou, mas tenho que ficar para representar o Bangu", diz.