O duro recomeço
Marinho é recontratado pelo Ceres, da Segunda Divisão, para comandar os time de base
Fonte: O Dia, 08/08/2004
Repórter: Marco Senna

A dramática palavra desemprego deu lugar a uma outra mágica, sinônimo de dignidade: trabalho. Foram três meses esquecido num canto, período em que viveu às custas de sua mulher (Lisa Minelli). Sem dinheiro e sentindo-se humilhado, estava disposto a abandonar de vez o mundo do futebol e partir para uma aventura errante. Falou até em virar motorista de ônibus. Mas o ex-craque do Botafogo e da seleção brasileira, Marinho, voltou a dar um drible no destino – como o fizera ao abandonar as drogas, há dez anos –, e retomou sua carreira de treinador do ponto onde parou: foi recontratado pelo Ceres, da Segunda Divisão, com a missão de comandar as equipes de juvenil e juniores.
Recentemente, o ATAQUE revelou o drama de Marinho, na série ‘Profissão na Marca do Pênalti”, em que o ex-jogador abriu seu coração e chegou às lágrimas ao falar do drama que estava vivendo: sem emprego e abandonado pelos amigos. Os dirigentes do Ceres se sensibilizaram com a situação do ex-ponta e o trouxeram de volta ao clube. Até porque, desde que Marinho saiu, o trabalho nas divisões de base ficou entregue à própria sorte. Foi pelas mãos dele que o Ceres ascendeu, este ano, à Primeira Divisão nas categorias inferiores.
“Recuperei a dignidade. Hoje, sou outra pessoa. Trabalhar, novamente, está sendo uma bênção; tirei um peso das minhas costas”, declarou o novo Marinho, exibindo na fisionomia a alegria por se sentir útil. Apesar do salário modesto (R$ 700,00 mensais), ele se mostra satisfeito. Não preciso de muito, pois levo uma vida humilde e, agora, feliz”, emendou.
Dublê de técnico e cozinheiro

Além do Ceres, Marinho passou a integrar o ‘Projeto Zico’ – já comanda a escolinha de futebol de Santa Margarida, em Campo Grande. “Voltei a fazer o que mais gosto, que é trabalhar com crianças. Tenho muito o que ensinar para elas, tanto no aspecto profissional, quanto na experiência de vida. Quero evitar que repitam os erros. cometidos por mim”, vibrou.
A simplicidade de Marinho é tão grande, que o ex-craque da Seleção – já viveu dias de astro, com carros importados e mansão em Jacarepaguá –, não se limita a treinar a garotada. Nos dias de concentração, ele vai para o fogão e prepara a comida dos seus famintos pupilos.
“Minha especialidade é a ‘galinhada’, sem falar no tradicional arroz com feijão. Essa rapaziada come muito (risos)”, disse, enquanto preparava a iguaria. “Modéstia à parte, cozinho bem (novas gargalhadas)”, acrescentou.
Com um olho clínico para descobrir talentos, Marinho aponta três garotos do time de juvenil como jovens de futuro: o lateral-direito Helton, de 17 anos, o meia-esquerda Laércio e o zagueiro Leandro, ambos de 16 anos. “Eles jogam em qualquer clube grande do Rio”, avaliza Marinho. Palavra de ex-craque!