HÁ
CEM ANOS, BANGU DERROTAVA O PRECONCEITO
Cem
anos depois a luta continua...
Em tempos de racismo na Europa,
uma homenagem ao Bangu, primeiro clube do
país a ter um negro no time
Foto:
Grêmio Literário José
Mauro de Vasconcelos |
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O
BANGU em 14 de maio de 1905, antes da
vitória por 5 a 3 sobre o Fluminense,
no campo da Fábrica. A partir
da esquerda, última fila: José
Villas Boas (presidente), Frederick
Jacques e João Ferrer (presidente
honorário); fila do meio: César
Bochialini, Francisco de Barros, John
Stark, Dante Delocco e Justino Fortes;
fila da frente: Segundo Maffeu, Thomas
Hellowel, Francisco Carregal (o negro
pioneiro), William Procter e James Hartley |
Liberdade,
igualdade e justiça no Brasil, teoricamente,
existem há exatamente 117 anos, quando
a princesa-regente Isabel assinou o atestado
de óbito do Império. Na prática,
apesar da Lei Áurea, o fantasma do
preconceito racial continua atordoando a sociedade,
inclusive no esporte. Cem anos se completam
amanhã da primeira partida de futebol
disputada no país que contou com a
presença de um negro: Francisco Carregal,
do Bangu.
"É um orgulho. O nosso clube foi
pioneiro em outras coisas também",
afirmou Rita de Cássia, presidente
do Bangu, primeiro campeão estadual
profissional (1933, na extinta Liga Carioca
de Football) e o primeiro a conquistar um
título no Maracanã (1950, o
do Torneio Início).
Naquela partida histórica do dia 14
de maio de 1905, realizada no jardim da Fábrica
de Tecidos Bangu, Francisco Carregal era o
único brasileiro da equipe. Cinco ingleses
(Frederick Jacques, John Stark, William Hellowell,
William Procter e James Hartley), três
italianos (Cesar Bochialini, Dante Delocco
e Segundo Maffeu) e dois portugueses (Francisco
de Barros e Justino Fortes) também
ajudaram na vitória por 5 a 3 sobre
o Fluminense.
"O pai de Francisco Carregal era um português
de pele branca e a sua mãe, uma brasileira
negra", explica o historiador Carlos
Molinari, autor do livro que conta o centenário
do clube, acrescentando que Francisco trabalhava
como tecelão na Companhia Industrial
Progresso do Brasil (Fábrica de Tecidos
Bangu).
O futebol ainda engatinhava, mas dava de ombros
para a abolição da escravatura.
Tanto que, no dia 1 de maio de 1907, a Liga
Metropolitana proibiu, por unanimidade, o
registro de atletas negros. A decisão
causou o desligamento do Bangu da entidade.
"O clube não mudou a sua postura
e foi campeão da Segunda Divisão
em 1911 contando com quatro atletas negros",
disse Molinari.
PRÊMIO O pioneirismo nessa
inclusão social foi reconhecido no
dia 24 de maio de 2001, quando a pesquisa
realizada por José Carlos de Jesus
de Abreu, assessor do deputado estadual Noel
de Carvalho (PSB), foi aprovada pela Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj),
que em novembro do mesmo ano concedeu ao Bangu
a Medalha Tiradentes.
Outros craques negros que brilharam em Moça Bonita | |||
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Zózimo (1952-63) |
Moacyr
Bueno (1942-58) |
Mário
Tito (1960-72) |
Paulo
Borges (1963-67) |
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Fausto (1926-29) |
Marinho (1983-87) |
Vermelho (1952) |
Zizinho (1950-57) |
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Fotos: Arquivo JS |
Domingos
da Guia (1929-32 e 1948) |
Calazans (1954-57) |
Cláudio
Adão (1984-85) |
Um documentário para Ademir
Prosseguem hoje as filmagens do documentário
de longa-metragem "Um Craque Chamado
Divino", do jornalista Penna Filho, que
conta a história de Ademir da Guia.
Hoje haverá um evento no Grêmio
Literário de Bangu com a presença
do próprio Ademir.
Filho de Domingos da Guia, ainda hoje considerado
o mais clássico zagueiro-central do
futebol brasileiro, Ademir é outro
nome expressivo de uma família de craques
que coincidentemente começaram pelo
Bangu.
O Bangu tem grande importância no resgate
da trajetória de Ademir e também
na própria história do futebol
brasileiro. Na verdade, o clube e o bairro
tiveram vida a partir da instalação
no bairro da Fábrica de Tecidos Bangu,
em 1889.
No início do século, a fábrica
montou um time de futebol, unindo seus operários
de maioria negra e ingleses radicados no Rio,
fazendo surgir os Mulatinhos Rosados, como
um dos grandes times do Bangu viria a ser
conhecido. O documentário conta com
patrocínio da Petrobrás.
Fonte:
Jornal dos Sports, 13/05/2005.
Reportagem: Edmo Junior.