Bangu Atlético Clube: sua história e suas glórias

Divino em foco

Ademir da Guia volta a Moça Bonita para filmar documentário sobre sua vida

Fonte: Jornal dos Sports, 14/05/2005
Reportagem: Luiz Thiago
Foto: Jair Motta (Jornal dos Sports)
Ademir da Guia

Começaram ontem em Bangu as filmagens do documentário "Um Craque Chamado Divino", de Penna Filho. O diretor, que também assina o roteiro do longa-metragem, é, como todo fã de futebol, um admirador confesso de Ademir da Guia. Penna conseguiu um grande acervo de fotos e filmes antigos, que resgatam toda a mestria de Ademir não só nos gramados do mundo como também fora deles. A infância de Ademir no subúrbio carioca terá um espaço de destaque na obra, que reúne depoimento de ex-jogadores, jornalistas e personalidades que apreciavam seu futebol. Gérson e Leivinha, entre outros, falam sobre o Divino no documentário.

Um dos mais elegantes jogadores brasileiros, dentro e fora de campo, Ademir da Guia, o Divino, nasceu e foi criado em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Filho de Domingos da Guia, considerado o melhor zagueiro-central do futebol brasileiro de todos os tempos, Ademir começou a jogar pelo Bangu, a exemplo de seu pai. Muitos não sabem, mas antes de demonstrar o seu talento no gramado de Moça Bonita Ademir foi campeão de natação vestindo a touca vermelha e branca. O meia, que disputou a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, transferiu-se para o Palmeiras em 1961 e ostenta a posição de terceiro maior atilheiro do clube paulista e de ídolo de seus torcedores. Abaixo, alguns detalhes da carreira e da vida do ex-craque.

Início - "Comecei, como todo garoto, jogando peladas nos campinhos de várzea. Mas antes disso nadei algum tempo pelo Bangu e conquistei várias medalhas. Anos depois, ingressei no futebol."

Bangu - "Bairro e clube estarão para sempre marcados na minha vida. Lá nasci e fui criado, além de ter dados os meus primeiros chutes por lá. Fiquei pouco tempo no clube, mas fiz muitos amigos. Cheguei a trabalhar na Fábrica de Tecidos por quatro meses, mas não levava muito jeito como operário."

Relação com o pai - "Ele sempre me incentivou. Chegou a ser meu técnico, quando era garoto. Aprendi muito com ele, embora nossas posições fossem diferentes."

Palmeiras - "O Bangu fez uma excursão a Campinas e o técnico do Guarani Armando Renganeschi gostou do meu futebol e me indicou à diretoria. Mas naquele momento nada ocorreu. Pouco tempo depois, Renganeschi havia sido contratado pelo Palmeiras e viabilizou minha ida para o Parque Antártica."

Ídolo - "Gostava muito de ver Rubens, que atuou por Flamengo e Vasco, jogar. Admirava o seu estilo de jogo, ofensivo. Também era fã de Zizinho. Hoje em dia, aprecio o futebol de Robinho."

Seleção Brasileira - "Tive a sorte de pertencer a uma geração privilegiada, repleta de craques. Não defendi muito a Seleção, mas disputei uma Copa (a de 74), que era um dos meus sonhos."

Rótulo - "Quando cheguei a São Paulo, muitos diziam que eu era um jogador lento. Na verdade, o futebol carioca era mais cadenciado do que o paulista e por isso tive um pouco de dificuldade no início. Mas procurei adaptar-me."

Documentário - "Fico muito feliz com o reconhecimento das pessoas. Isso é muito importante na vida de qualquer um."

Um passeio por onde tudo começou

Mesmo há muito tempo em São Paulo, Ademir não esqueceu suas origens. "Sempre que posso dou um pulo aqui em Bangu", disse o ex-jogador, que tem parentes na cidade. O Divino, como ficou conhecido na época da famosa Academia palmeirense, demonstrou que sua personalidade reflete o estilo de jogo que o consagrou: elegante e simples. Trajando camiseta e calçando chinelos, Ademir deu uma volta pelo calçadão de Bangu e ficou boquiaberto com as transformações do bairro: "Está tudo muito diferente por aqui, mas, felizmente, as mudanças foram benéficas para a região", disse. Se não fosse por um amigo ou outro, ele passaria despercebido pelas ruas. "Em São Paulo, não posso andar nessa tranqüilidade toda.", brincou.

O craque recordou bons momentos de sua vida, no Grêmio Literário José Mauro de Vasconcelos, um marco cultural do bairro. Lá, Ademir pôde reconhecer companheiros de sua época de juvenil, além de observar os times históricos do Bangu, que contava com seu pai, na maioria das vezes. Ele ficou encantado com o que viu: "É muito bom contar com espaços como este, que preservam a história do local".

À tarde, toda a equipe de filmagem foi deslocada para a frente da desativada Fábrica de Tecidos de Bangu, onde Ademir gravou uma cena. "Tudo começou aqui", disse, lembrando que trabalhou por quatro meses no local. "Meu negócio era jogar bola, não levava o mínimo jeito com aquelas máquinas todas", confessou.